sexta-feira, 25 de maio de 2018

Abraçando o que vier


Estou em retiro.

Uma situação de saúde me chama a atenção: ei, olha para a Fê-corpo, olha para a Fê-alma.
Sincronamente, o mundo à minha volta entra em retiro também - nossos planos práticos pessoais, as programações de todos à nossa volta, o país, tudo estaciona, na falta de meios de deslocamento, nas convulsões da greve.
Em meio a situações pessoais e coletivas que despertam a ansiedade do porvir, tenho feito meu esforço de viver o agora. Três seres, principalmente, sustentam esse momento e essa retirante que sou e estou: meu amor, que é meu co-aprendiz nessa estrada que graças a tudo que há de mais sagrado nos permitiram compartilhar; nossa filhota Preta, que me faz apenas ser, quando sento com ela no colo fazendo um cafuné, quando cuido dela e das suas necessidades; e o querido Marco Schultz, o professor que fala de um jeito que meu ouvido e coração sabem ouvir. Logo mais há um retiro com ele em SP, ao qual intencionei ir - tudo bem, se estamos longe, porque há o youtube me trazendo a boa nova através de suas palavras também.

O Marco me diz (aos 1:12 deste vídeo):
"o que acontece normalmente é: vem frustração e a gente resiste, a gente não quer sentir, a gente não acolhe. O yoga, o sadhana do yoga seria acolher essa frustração e ficar com o mistério disso: do acolhimento, do exercício de não criar resistência com aquilo que não é agradável, que é desconfortável. Esse encontro, ou seja, essa oferenda, esse acolhimento, esse pertencimento para a frustração, ao invés de a gente sempre tabelar frustrações como algo negativo, desagradável - não, é algo que compõe, faz parte; é ali que o mistério acontece. Esse teu exercício de acolhimento é a ponte. E, de repente, sem a resistência, a frustração pertencendo, já não é mais frustração. É quase como você tá tudo bem, mesmo quando não tá tudo bem. Mas tu não tem algo contrariando o "não tá tudo bem", porque tem um algo "tudo bem" antes. E não é conceito, não é uma gaveta egoica se abrindo, não é você não dando bola, e isso que é interessante, pq é através do karma, muitas vezes difícil, difícil - a vida tá dificil, mas hoje eu conheço um lugar onde eu reconheço que esse difícil passa. E que, se houve a manifestação do difícil, resta-me, a nível do exercício, na escola da vida, aprender a acolher o difícil também. E de repente acolhendo algo do mistério - pq o ego não faz isso, o ego não acolhe o difícil, o ego resiste ao difícil; então, que mistério é esse, em mim e em você, que acolhe o difícil? Eu poderia dizer que já é o Eu Maior acontecendo. É da gente fidelizar essa investigação - essa realização ou possibilidade de realização: que mistério é esse que acolhe o sofrimento? E olha que bonito, e não meramente bonito, mas que milagroso: eu comentei do Buddha - quando ele acolheu a verdade do sofrimento, dele mesmo, como Sidarta Gautama, e, sendo assim, de todos, porque, veja bem, através do acolhimento dele com ele mesmo, ele realizou a falência do personagem egóico em cada um/todos nós, seres humanos. E o que não é isso? Você sair da tua experiência pessoal, porque ela não é meramente uma experiência pessoal, é da realidade da humanidade em você, ou seja, você-humano também; mas abriu-se compaixão. Porque o acolhimento do sofrimento é a realização da compaixão. Olha que forte: a gente fala de compaixão, escreve livro de compaixão, mas existe um preço pra de fato tu ter realização do que é compaixão, que é estado, não é um sentimento. Compaixão é um estado, e o preço é esse, é você acolher o próprio sofrimento. E aí, que incrível, né - será que é sofrimento, então? Se você tá num estado de compaixão, será que tu sofre, mesmo?"

:-)

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