segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Aprendizados da imersão no veneno

Olá, queridos!
Tô aqui pensando que tenho feito cada textão no blog que deve dar preguiça nas pessoas de ler... mas esses primeiros posts não consigo que sejam diferentes, pois estou tentando dar uma geral, minha opinião e referências em cada tema que me interessa. A outra opção é que eu seja uma prolixa incurável mesmo e vá ser sempre assim kkkkkk... mas nem que seja pelo tempo, que tenderá a ficar mais escasso a partir dessa semana, o ritmo de blablabla vai diminuir :)
Quero compartilhar com vcs uma oportunidade incrível que eu tive, no dia 24 de agosto desse ano: participei de um seminário de dia inteiro na Unisinos, de graça e sem ser aluna, em que ouvi alguns dos pesquisadores e profissionais mais atuantes na conscientização sobre os danos à saúde causados pelos agrotóxicos. Foi um seminário de extensão e de lançamento do Dossiê Abrasco, do qual eu já falei na página Links, preciosos links. O dossiê tem por objetivo chamar atenção da sociedade e do governo sobre esses danos. O auditório estava cheio de profissionais e estudantes das mais variadas áreas - uma alegria pensar que todas aquelas pessoas (e tantas mais pelo Brasil, nos diversos eventos sobre o dossiê) compartilharam essas informações que me desvendavam uma verdade muito pior do que aquela noção vaga que a gente tem, "ah, usam defensivo pra evitar lagarta né? Mas se não for assim não rende a produção, paciência...". Minha gratidão à Unisinos e aos palestrantes está aqui, na forma de propagação de algumas coisas que aprendi.
Foi um dia de desconstrução completa do que o agronegócio e as gigantes da transgenia e seus tentáculos acadêmicos me fizeram acreditar.

E vc, também acredita?
Que sem eles o Brasil passaria fome e que a agricultura familiar não tem volume para alimentar o povo? Sabia que vai quase tudo pra alimentar os bichos de corte e exportação? E que com 25% das terras cultivadas do Brasil a agricultura familiar produz 70% do alimento do país? E que houve grande pressão da bancada ruralista contra o presidente do IBGE na época em que o censo agropecuário de 2006 saiu evidenciando isso? De forma geral, que a bancada ruralista trabalha defendendo apenas o interesse econômico dos seus representados, sem compromisso com a nossa saúde?
Te fizeram acreditar que aquele agrotóxico aprovado com base no estudo "científico" feito dentro do laboratório da empresa que o vende é seguro pra a saúde, mesmo quando combinado com os outros 2, 3 tipos de agrotóxicos que muitas vezes ocorrem combinados num cultivo e que não participaram do estudo (entre tantas outras fragilidades de método de pesquisa)? Sabia que a lei do Brasil garante uma licença eterna de uso para cada novo agrotóxico aprovado, sem necessidade de revisão periódica da autorização, para verificação se novos estudos atestaram seus riscos? E que a comunidade científica isenta só tem acesso a novas criações das grandes empresas de transgenia depois de seus produtos já estarem no mercado e ao rumo da sua mesa? Por isso o crescimento do mercado de agrotóxicos no Brasil é vezes maior que o mundial: a nossa lei está muito mais preocupada com os avanços do agronegócio do que com a nossa saúde.
Te fizeram acreditar que produto orgânico é caro e por isso coisa pra rico? Já pensou em embutir o dinheiro q sai do governo - e, portanto, do seu bolso - para subsidiar os incomparáveis créditos que só os grandes produtores dentro do esquema químico-dependente conseguem, os custos mais mensuráveis do SUS com intoxicações agudas por agrotóxico principalmente na população rural, os custos imensuráveis e ainda largamente desconhecidos dos danos crônicos acumulados em toda a população? Segundo um estudo realizado nas propriedades rurais do Paraná, cada dólar gasto na compra de agrotóxicos pode custar 1,28 dólares aos cofres públicos em futuros gastos com casos de intoxicação aguda na população. E ainda, o dano inestimável de ir sugando a terra de forma predatória e deixando para trás, como faz o modelo atual de produção de larga escala?
Acredita que o governo está defendendo o SEU interesse, quando o legislativo faz projeto de lei pra tornar praticamente impossível reconhecer transgenia em um produto? Sabia que a trangenia comercial é principalmente intencionada para provocar venda casada de semente com agrotóxico? Os transgênicos no mercado objetivam resistência da planta a pesticida/herbicida, e não aumento de produtividade - a tal tecnologia acaba necessariamente implicando veneno no prato. Sabia também que numa monocultura, devido ao desenvolvimento de resistência das ervas "daninhas" aos herbicidas, é necessário aplicar cada vez mais pesticida para se ter o mesmo resultado? Sabia que a carne comercializada vem com todo esse histórico de veneno, já que um dos principais destinos da produção do agronegócio é alimentar rebanho? 
E, bem do lado, muitas vezes tem uma escola rural.
A mídia comprada te fez acreditar que reforma agrária é só coisa de comunista pra beneficiar vagabundo, que os movimentos pró reforma agrária só têm um bando de baderneiros invasores e destruidores? Sabia que as famílias assentadas são responsáveis por uma parcela enorme da produção de alimentos do país, que militam em resistência a todo esse esquema que te faz financiar o próprio envenenamento, fazem bancos de sementes crioulas, entre tantas outras atividades de conscientização? Sabe que existe uma rede enorme de profissionais e pesquisadores sérios e de muito conhecimento científico defendendo a reforma agrária como viabilizadora da agricultura familiar ecológica e componente da solução para a nossa saúde e para o bem estar social, ao permitir existência digna no campo para um contingente significativo de cidadãos? Sabia que cooperativas de famílias assentadas têm produtividade de alta escala no cultivo orgânico?
Te fizeram acreditar que, se o governo permite que se venda, se tá no mercado, claro que o produto deve ser seguro? Sabia que o Conselho Técnico Nacional de Biossegurança nunca negou uma licença de novo agrotóxico, e que quando a comunidade científica luta muito para retirar um agrotóxico já licenciado mas cheio de estudos mostrando danos e o Conselho acata o banimento, as empresas entram com liminares e judicializam a questão por anos, enquanto o agrotóxico segue aos litros sendo absorvido pelas plantinhas que vão pra mesa depois? Eu sabia quase nada de tudo isso. Por que não vemos mais dessas notícias e informações que linkei na grande mídia?

Instrua-se, e se vc não gosta da ideia de financiar seu próprio envenenamento, atue! Ser um cidadão numa sociedade com quase tudo por construir a fim de termos um país decente para todos não é só pagar os impostos e esperar de volta um funcionamento perfeito do estado. A nossa responsabilidade é muito maior! Cada vez mais eu concordo com o cartaz que vi no Bonobo, espaço vegano e libertário de Porto Alegre: no capitalismo, não é uma pessoa=um voto; é um real=um voto. Dinheiro manda no lobby, que manda nos políticos, que mandam nas políticas públicas que interferem diretamente na sua vida.
Defina o que vc financia, enxergue por trás do produto no mercado, o que a sua cadeia produtiva significa para a nossa sociedade. Apoie as feiras orgânicas - descubra o que há de agroecologia na sua cidade (esse mapa das feiras é o ouro!), e se não há pressione a prefeitura, os vereadores. Se vc entende, como eu, que os agrotóxicos, as empresas de transgenia, o agronegócio e a bancada ruralista prestam um desserviço à nossa sociedade e nossa saúde, boicote os produtos transgênicos, como praticamente toda a soja e o milho que temos por aqui, e todo produto de origem animal, indústria sustentada pelos mesmos grãos. Não tenha medo de mudar hábitos sociais e alimentares em resposta às suas convicções, pois ter a consciência tranquila e atuante no despertar de outras consciências tem um gosto muito melhor que qualquer comida. Confronte as informações com fontes pró-agronegócio e se posicione.
Tudo o que vc quiser saber sobre o assunto, numa revisão bibliográfica imperdível, elaborada por uma rede vasta de pesquisadores que abraçam a causa e lutam pela nossa saúde desinteressadamente, vc pode achar no dossiê Abrasco, disponível por completo no site, nova edição ampliada recém lançada e livre para todos, direitos autorais abdicados. No site tem também documentários imperdíveis.
Eu passei muito tempo achando que, por abominar o jogo de interesses predominante na politica partidária, eu poderia viver de forma alheia à normatização da sociedade, trabalhando só meu autoconhecimento, minha evolução espiritual pra buscar ser uma pessoa melhor para mim e para o meu próximo, como diz no evangelho que eu muito amo; estudando, buscando dar o meu melhor no meu trabalho e para as pessoas do meu convívio, fazendo um ou outro trabalho assistencial voluntário. Hoje eu vejo que me posicionar nos atos que me tornam parte da sociedade é sim fazer política, é exercer cidadania. Isso não demanda filiação partidária, é o que devíamos todos ser incentivados a fazer desde criança, mas cadê incentivo? Cuidar meu consumo também é agir com amor e compaixão pelos afetados para a produção dos objetos de consumo. Não me importa que a diferença que eu possa fazer, individualmente, seja pequena. O idealismo só não vira amargura diante da realidade quando é carregado de amor e de esperança, e essas eu cultivarei para sempre.
Querendo ouvir gente com efetiva propriedade pra falar sobre esses tópicos, pesquise-os: Fernando Ferreira Carneiro; Karen Friedrich; Leonardo Melgarejo. Assista aos documentários no youtube O veneno está na mesa e O veneno está na mesa II. Só pra fechar com uma informação pontual, veja o nível do absurdo nesse vídeo curtinho do Michael Pollan, sobre os agrotóxicos na batata do McDonalds.

Esse assunto me interessa muito, quem quiser compartilhar outros vídeos e textos que acrescentem, por favor, mandem!! Eu demorei muito para despertar para a responsabilidade de cuidar melhor do meu corpo, trocar a ótica do fazer dieta pelo respeito com o meu corpo, veículo de manifestação nesse plano de consciência. Eu tenho intenção de viver MUITO, e cheia de saúde, e hoje sei que estou fazendo o que posso por merecer esse futuro! Amar o nosso corpo, um assunto tão necessário nesses tempos de aparência ditando as relações, é bem mais fácil quando a gente o vê pela ótica da liberdade que só a saúde dá, em vez de pelo que determinaram que é o bonito e desejável em aparência através do julgamento dos outros.
E vamos em frente, com amor, com coerência, respeitando o ritmo do nosso passo, mas sem tardar ;-)
Abraços com carinho,

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Pra quem está pensando em parar de comer carne

Escrevi esse post em 2015, enquanto ainda era vegana; hoje não sou mais, como contei aqui. Deixo o post em sua forma original, sendo que o P.S. lá no fim escrevi agora, no fim de 2016.

Oi!
Esse assunto aqui foi o primeiro que me motivou a começar a escrever este blog. No fim eu mudei um pouco a ordem das coisas, como eu contei em Bem vindo!, mas sem dúvidas é com muito cuidado e carinho que eu venho afinal falar sobre os meus motivos para parar com a carne e os demais produtos de origem animal.
Primeiro, questão de ordem: minha intenção é falar disso pra quem, como diz o título, já pensou no assunto alguma vez e o considerou razoável, ou pelo menos está aberto pra aprendizados e mudanças diante de novas informações. Falar para quem não quer ouvir é infrutífero e ainda gera conflito, e essa absolutamente não é a intenção. Então, se vc já abriu o coração para considerar essa possibilidade, é pra VC que eu estou falando!
Os motivos que levam à transição para o vegetarianismo costumam ser de quatro tipos (entenda a nomenclatura aqui! Vegetarianismo estrito é o hábito alimentar de quem não come carne e derivados; o vegano é o que tem por filosofia de vida levar a consciência da exploração animal para todos os âmbitos da vida): ser ético em relação ao sofrimento animal; não colaborar para a degradação ecológica que o consumo de carne causa; não compactuar com a desigualdade social que leva poucos a comerem um alimento ecologicamente caro para produzir enquanto outros passam fome; e promover saúde. É totalmente o combo da coerência e do bem, ainda mais se associado a outros hábitos! Para cada pessoa, algum ou alguns desses motivos pesa mais ou pesa exclusivamente, mas independentemente das motivações o efeito benéfico em todas as áreas é inevitável hehe.

Quanto ao sofrimento animal: 
É simples: se vc ama e protege seu bichinho de estimação, porque não estender o mesmo cuidado a algumas espécies ditas comestíveis? Percebe que é apenas uma questão cultural gostar de um e comer o outro, e que isso é incoerente? E mais: se a ideia de testemunhar um abate, uma debicagem, uma trituração de pintinhos, ou se a ideia de vc mesmo abater um animal para comer te desagrada, algo não está fechando no seu consumo de carne. 
A dra. Melanie Joy explica em 18 min: a alimentação com produtos de origem animal é um sistema de crenças, visto que comer carne É uma escolha, assim como o veganismo é um sistema de crenças que motiva uma escolha, que é não comê-los. A questão é que o consumo de carne é um sistema de crenças tão dominante que as pessoas nem se dão conta que ele existe, ninguém nos pergunta quando a gente é criança se a gente escolhe comer carne ou não. A crença na necessidade de proteína animal é enraizada na sociedade, é generalizada mesmo indo contra o nosso senso natural de gostar de animais. Não se consegue carne sem violência contra o ser vivo senciente, e isso contraria os nossos valores fundamentais, como compaixão e justiça; por isso o sistema precisa usar mecanismos de defesa para que pessoas compassivas e racionais participem de práticas de violência sem se darem conta plenamente do que estão fazendo. Desde crianças temos o nosso amor natural por animais adormecido para as espécies "comestíveis", existe a crença de que estes comestíveis são "burros" e "todos iguais", o sofrimento na "produção" de carne é devidamente escondido, tudo para que a gente consuma sem questionar.
Ela chama este sistema de crenças de carnismo, e diz que o carnismo é responsável por fazer pessoas boas e compassivas nunca pararem para se questionar e reconhecer como crueldade contra uma vaca ou galinha o que facilmente assim reconheceriam, se fosse imposto a um cachorro ou gato. Faz parte desse sistema de crenças o especismo, a ideia de que a vida humana tem mais valor que a vida de um animal, da mesma forma que o racismo lida com raças. Faz parte do sistema as aparentes soluções para livrar a consciência, como o selo de bem-estar animal e o tal abate humanizado, que são uma incongruência visto que o fim segue sendo morrer para virar carne para o homem, servindo no fim como um anestesiador de consciências - quando não acontece de um ativista conseguir entrar nos galpões e matadouros e ver que de compassivo esse sistema não tem nada.
Faz parte das defesas do carnismo que os veganos sejam retratados frequentemente como excessivamente emocionais e sensíveis, sugerindo-se com isso uma falta de razoabilidade, ou mesmo uma irracionalidade - o que é uma forma muito poderosa de desacreditar a mensagem que os veganos trazem. Esta estratégia não é nada nova. As pessoas que lutaram pela abolição da escravatura humana, por exemplo, foram chamadas de sentimentais. Se em algum momento vc já se sentiu agredido pela argumentação de um vegano sobre o consumo de carne, entenda: não se aponta o dedo para pessoas, se aponta o dedo para o sistema! E como ele condicionou pessoas boas a agirem como pessoas sem compaixão. Acordar para isso é um resgate da compaixão que nasceu dentro de vc e que foi desaprendida.
Quanto à sustentabilidade ambiental:
Acho que nada que uma pessoa possa fazer individualmente, em termos de mudança de hábitos, pode ser tão significativo para o ambiente quanto parar de demandar carne e demais produtos de origem animal. A coisa é INACREDITÁVEL, se alguém tivesse que chutar os valores dos gráficos abaixo, duvido muitíssimo que chegaria perto. Somando os danos, a conta só do prejuízo ambiental fica assim: para cada 1 real de lucro no bolsinho do pecuarista, o mundo arca com 22 reais de prejuízo ambiental. Pode economizar água em casa, cuidar a pegada de carbono, a pessoa pode se revirar em mudanças de hábitos e sacrifícios e, ainda assim, abdicar do bife teria mais resultado. Não adianta: sustentabilidade e veganismo andam juntos.



Quanto à sustentabilidade social: 
A quantidade de campo demandada para "fazer" um kg de carne daria para produzir tanto produto vegetal que logo se conclui o quanto a carne é um alimento da desigualdade. No Brasil, vemos menos essa diferença de custo pois há um grande estímulo financeiro por parte do governo para o agronegócio (estamos pagando por isso!), há abundância de terras aliada com a não responsabilização financeira pela degradação e demais danos ecológicos causados pela pecuária. Mas tente comer um bife na Europa pra ver quanto custa ;-) Imagine o preço (caso haja disponibilidade) de carne nos lugares mais pobres do mundo. Aí fazem altas estratégias pra reduzir o problema da sustentabilidade ambiental e social, reduzindo a área em que os bichos ficam, enchendo de hormônios pra crescerem rápido e gerarem menos gases antes de irem pra faca - ou seja, são manipulados como coisas, desconsiderados totalmente como seres a fim de seu consumo ser mais "sustentável" - por que não parar, apenas?
Uma das grandes falácias contra o vegetarianismo é que é uma dieta de rico. Grãos, verduras e frutas são MUITO mais baratos que produtos de origem animal, mesmo aqui no Brasil - ainda mais quando se passa a cozinhar mais e comer menos hambúrguer de 20 reais no McDonalds. Baratos no bolso e baratos pro planeta! Claro que tem os produtos veg gourmetizados, da mesma forma que tem os produtos carnistas gourmetizados - e são todos desnecessários pra se nutrir bem, e eu até diria contraproducentes no caso de ultraprocessados veg.
Além disso, a maior parte da produção de grãos dos grandes latifúndios vai para alimentar animais de corte, então tudo o que vc porventura tenha de opinião contrária sobre o agronegócio, transgênicos e agrotóxicos associados vai no pacote do bife também. Se a questão da desigualdade tem eco no seu coração, por favor, considere o veganismo!
Se dividir a terra cultivável do mundo pela quantidade de habitantes globais, cada um teria direito ao espaço azul. Os espaços verdes são os necessários para alimentar veganos e ovolactovegs. Olha o espaço necessário para o carnista. A conta não fecha, alguém vai ter que deixar de comer pra dar espaço para o bife alheio, ou o buraco na amazônia seguirá crescendo.

Por fim, saúde:
Mil vantagens. Só pense em tudo o que vc teria que deixar de comer se fosse vegano, e agora pense de novo se esses alimentos eram saudáveis. Maioria não era lá tão boa pra saúde, certo?
Gordura saturada, colesterol, problemas renais derivados do excesso de proteína animal, acidez metabólica, digestão pesada - tudo melhora, tudo o que é ruim ameniza, a vida fica bem mais leve. Pra não ficar com deficiências nutricionais, só tem que comer bem, variado, frutas e legumes em abundância, grãos e sementes também. Eu só suplemento vitamina B12.
O início da mudança alimentar é um período sim de investimento de tempo, pois temos que aprender sobre nutrição e opções legais de comida. Aqui vale a conscientização a respeito do que eu já disse antes: a gente precisa se apropriar do conhecimento essencial para a nossa saúde!
A comida normal é extremamente sem graça, tudo é só acompanhamento da carne. Então na comida vegana tudo precisa ter graça por si mesmo. Por exemplo, meu arroz nunca é só um arroz - é um arroz com algum outro grão, tipo linhaça ou quinoa ou gergelim, ervas e algum legume, como abobrinha, brócolis ou berinjela. Grão de bico, lentilhas e feijões são super proteicos, de cereais e oleaginosas se faz leite vegetal, pão de queijo sem queijo é mais gostoso que o convencional, farofa e cuscuz dá pra botar o que quiser dentro, frutas secas são ótimos lanches para levar na mochila e adoçam sobremesas sem usar açúcar, saladas viram refeições completas com bastante variedade de folhas brotos legumes ralados, uma pastinha feita do resíduo do leite vegetal e um molho, e assim vai :) Tem chocolate vegano, pão vegano, estrogonofe vegano, maionese vegana, tudo o que é versão de comida conhecida. Quem sente falta, pode achar para comprar queijo vegetal e diversos produtos parecidos com carne, estes são bem interessantes no período de transição. Eu entrei totalmente na cozinha depois de vegana, coisa que nunca tinha feito na vida. Eu me disponho TOTALMENTE a passar dicas mais detalhadas e específicas sobre receitas conforme a necessidade de quem precisar, certo? É só mandar um oi :)
A maravilhosa cozinha vegana da Fê
Com tudo isso, posso dizer que graçassss ao bom Pai eu tive acesso às informações necessárias, acordei e hoje sou vegana!! Minha diretriz alimentar é: veganismo é conduta básica, pois isso eu preciso fazer pelos animais humanos e não-humanos e pela Terra, não por mim; dentro do veganismo, eu ainda modulo minha alimentação para o meu idealismo, favorecendo os orgânicos e a agricultura familiar, e para a minha saúde, favorecendo a alimentação crua - essa parte sim, eu faço para o meu próprio bem.
Se vc chegou a ler até aqui, acho que eu atingi meu objetivo de passar informação de forma respeitosa (siiiim?). Não importa o nível da minha convicção a respeito de ser vegana, não importa o quanto já pensei a respeito para entender que a forma de ação mais acertada para todo mundo é essa: eu ajo de acordo com o meu entendimento de que é absolutamente essencial respeitar a liberdade e o tempo das pessoas, visto que essa mudança ainda é incipiente na sociedade. A mudança que não vem de dentro não se sustenta diante da maré contrária. Eu entendo e concordo com os ativistas que dizem que a nossa liberdade de opção vai só até onde começa a liberdade de outro ser, inclusive animal, e que então as pessoas não deveriam considerar comer carne uma opção pessoal pois a gente mexe com a liberdade do bicho q se mata. Mas a realidade com que lidamos é que, sim, isso é encarado como opção pessoal, a pessoa não sofre punição, preconceito ou qualquer outro revés social por consumir carne - e já que não existe nenhum freio exterior, o freio tem que vir da consciência. Um dia, eu acredito, vai haver massa crítica vegana que justifique uma mudança institucionalizada, como os abolicionistas querem, e os resistentes no consumo de produtos de origem animal terão que se adequar ou viver na clandestinidade, como já foi com a escravidão humana. A tendência de mudança é visível, mas ainda temos um grande caminho a seguir até lá. Esta é só a minha opinião, ok? Cada ativista tem direito de ter sua opinião e estratégia de alcançar e inspirar as pessoas. A minha é a informação dos dados e o respeito do tempo para que estes fatos inequívocos façam seu serviço na consciência.
Pra fechar, se vc quiser mais força ainda para sustentar sua vontade de mudança, veja Cowspiracy na Netflix, ou senão estude o resumo do documentário, no anexo abaixo. Veja os vídeos sobre veganismo na página Links, preciosos links. Forneça a si mesmo o contato com a realidade, e aí as inconveniências de ser diferente da grande massa vão ficar reduzidos a perto de nada. Instrua-se e conecte-se com a sua consciência e o seu desejo de ser uma pessoa melhor pra si mesma e para os outros, pois é esse desejo, que vem do amor e da compaixão, que vai lhe permitir ir além da média. Viver uma escolha de amor e compaixão tem um gosto muito melhor que qualquer comida :) 
Bjs


P.S.: Faço um aparte aqui - ninguém tem o monopólio da boa ação no mundo, e eu não compactuo com o extremismo que às vezes se vê no movimento vegano. Estar vivo e comer significa gerar impactos pras outras espécies. Por exemplo, quando comemos transgênicos, estamos comendo alimentos derivados de testes em animais e que causaram extermínio da fauna nativa para estabelecer monocultura. Quando consumimos plásticos e eles vão pro lixão, existe impacto pro ambiente e pros animais. Quando consumimos produtos de origem vegetal de grandes empresas irresponsáveis com o meio ambiente e que sustentam o capitalismo predatório que existe hoje, não estamos sendo responsáveis com a vida na Terra. Meu convívio com as pessoas que trabalham com permacultura me fizeram ver que nem sempre o veganismo anda de mãos dadas com a sustentabilidade, e a sustentabilidade é um caminho em prol de toda espécie viva. Tento hoje levar o melhor de tudo isso que aprendi, no veganismo e na permacultura. São ambos promotores de escolhas movidas pela compaixão. Toda mudança pro bem é válida, mas a humildade e o não julgamento das escolhas dos outros precisa existir.


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Sobre ajudar ou julgar (ou: Dor de índio)

Oi queridos! :)
Tem um vídeo curtinho que eu queria mostrar pra vocês.
Mas antes disso queria conversar sobre um assunto que já me fez matutar muito e ainda segue um problema controverso e de difícil solução para a minha filosofia principiante. Aquele drama (um dos dramas) de quem vive nas cidades grandes: o que fazer quando nos pedem esmola?
Tem os que são radicalmente contra dar dinheiro, os que acham que não se dá nem comida porque a pessoa tem que ir atrás, os que só dão se for comida ou que vão junto comprar o que a pessoa precisa, os que ajudam com dinheiro.
Algumas cenas da minha experiência pretérita:
- ir fazer um lanche com alguém que pediu comida na padaria ou restaurante mais próximo, quando eu tinha o tempo pra parar um pouco no meu caminho;
- ouvir, olhar, tentar ver se fulano estava mentindo para mim e concluir por não dar dinheiro;
- achar que a pessoa tava realmente precisando e dar dinheiro;
- dar a comida que eu tivesse na mochila;
- cheia de sacolas e mochila, pedir desculpa, passar apressada dizendo que não tinha dinheiro comigo no momento, desculpa moço;
Ou seja, padrão nenhum. Às vezes minha conveniência falava mais alto, às vezes eu dava, às vezes não, baseado num critério meio obscuro de julgamento de necessidade, de disponibilidade de troco na carteira ou de lanche na mochila.
Aí faz um ano ou pouco mais, eu comecei a pensar mais na questão, pra tentar achar uma linha de conduta a seguir, pois eu sempre ficava em dilemas éticos e pensando sobre esses episódios longamente depois que a pessoa pedinte ia embora.
Essa vontade de solução veio junto de um período de muita reflexão sobre como a riqueza se distribuía; sobre a discrepância de oportunidades entre uma pessoa que nasce numa família com dinheiro e outra sem; sobre como o dinheiro se refletia na educação recebida e nas oportunidades posteriores; sobre a tão falada meritocracia e no quanto a fui desconstruindo como uma ideia injusta e incompleta.
Resultado: resolvi não julgar mais e ajudar sempre. Fizemos uns kits com bolachas, produtos de higiene e uma mensagem legal de força e esperança para deixar no carro, para evitar de dar dinheiro; e, quando eu estivesse a pé e sem poder ajudar com lanche, ou se a pessoa me contasse uma história de necessidade específica de dinheiro, para comprar medicamentos ou coisa assim, decidi que daria, sim. Entendi que eu fui tão privilegiada por ter nascido numa família com condições materiais suficientes e com bons valores que, por mais que eu tenha me esforçado pra chegar ao ponto de conseguir me sustentar, eu certamente devo a minha situação hoje também à possibilidade de estudo que meus pais me propiciaram, ao meu corpo e cognição que funcionam direito, entre tantos outros fatores alheios ao meu esforço. Resolvi que os trocados que eu der não vão me deixar pobre, e afinal eu estou buscando depender cada vez menos de dinheiro; se doo dinheiro para diversas causas, não posso fechar os olhos para a necessidade de quem se submete a me pedir. Resolvi que não importa o que a pessoa vai fazer com o dinheiro que eu der, eu não tenho o direito de julgar a necessidade dela, porque eu não conheço a sua história e só posso ter uma certeza: foi uma história infinitamente mais triste que a minha, pois até hoje não sofri de necessidades que me fizessem ter que sair pedindo. Eu, que já fui bem viciada em açúcar e laticínios (não subestime a capacidade intoxicante da alimentação!), nunca passei pela situação de não ter dinheiro para sustentar meu vício, nunca passei pelo desespero de não poder ter meu vício atendido... se eu conheço esse desespero, e se eu não vou dar uma solução global de suporte para a superação do vício daquele indivíduo, como posso achar ruim que ele use os 2 reais que dei pra ele em mais uma pedra de crack, que naquele momento é a necessidade desesperada dele? Assim, se eu consegui justificar para mim mesma até o uso da esmola para sustentar o vício, a outra possibilidade era a pessoa estar precisando pra fins mais "louváveis", e então nesses casos eu realmente ia querer ajudar. No fim, entendi que deveria ajudar sempre e que isso era compatível com a ideia de amor que quero exercitar nessa vida.
(me contem as estratégias de vcs, por favor!)
 Esse assunto da esmola jamais viria junto com o assunto do vídeo, não fosse a seguinte conversa que vi ontem:
Nós já tinhamos ajudado essa vakinha, em prol dos índios guarani-kaiowá do MS, que se encerra agora em 27/09, e estávamos divulgando quando necessário. Eu fiquei bem assombrada com o posicionamento do rapaz que contestou a divulgação do apoio, baseado na argumentação de que índio não "contribui" para a sociedade.
Pensem que triste, ser o povo realmente nativo dessas terras, ter que ouvir que o Brasil foi descoberto em 1500 quando já era habitado, perceber seu jeito de viver ser corroído pela cultura cada vez mais doente dos descendentes da cultura europeia, ter suas terras demandadas por conta de dinheiro, seus amigos e parentes perseguidos e mortos por fazendeiros. Nesse ano eu pude entrar em contato com a cultura xamânica e finalmente ver a maravilhosa filosofia de integração com a natureza dos povos indígenas, de viver e valorizar os ciclos naturais, as ofertas da mãe-terra e a vida em comunidade. Meu coração rasga de ler o que está acontecendo no MS, rasga de ler como a proximidade com a nossa cultura abre brechas no que torna coesa a comunidade indígena. Como o Rô escreveu esses dias ao divulgar notícias da guerra civil que se instalou no MS, nenhum latifúndio do mundo vale uma vida.
O vídeo que eu queria mostrar é esse aqui. Só achei ele no facebook. É só uma militante da causa indígena falando por menos de 3 minutos, mas é bem dolorido de ouvir:
E, ainda assim, alguém lá naquele print acima julgou que não se deve estender a mão a eles. Estou também tentando não julgar essa pessoa. Juro que é difícil, quando meu coração entende tão diferentemente. Mas é exatamente aí que está o maior exercício do não julgamento, nas pessoas diametralmente opostas à nossa forma de pensar. Se eu entendo algo como certo, como o melhor caminho para todos, ainda assim não posso impor meu jeito de pensar aos outros. Posso explicitar os fatos, raciocínios e filosofia de vida que me levaram à minha escolha, e só. E, se efetivamente for esse o melhor caminho para todos, preciso confiar que, no tempo de cada um, as pessoas vão acabar mudando de ideia e o escolhendo também. No fim, é a minha conclusão de sempre: a luta por uma causa precisa estar baseada em bons sentimentos que só o exercício da espiritualidade proporciona - respeito à diferença, entrega em relação ao que não podemos modificar, amor como ótica das relações, pra não cairmos nos mesmos estados de espírito que geram as situações que tentamos combater.
Eu queria propor três coisas: a primeira, vamos tentar nos abster de tanto julgamento, já que convivemos com tanta dor e injustiça? É um super exercício para o bem, tão importante quanto é difícil.
Todas as pessoas que você encontra estão lutando uma batalha que você desconhece. Seja gentil. Sempre.
A segunda, vamos pensar com carinho a respeito das esmolas que damos ou não damos, e também nas causas que ajudamos financeiramente? Tem problemas sociais muito, muito maiores que a nossa capacidade de atuação. Nesses casos, eu mando muita energia positiva para a resolução daquela situação e, se eu tenho condições de colaborar com recursos materiais, eu ajudo. Quase toda ONG precisa de doações, então veja alguma que trabalha com uma causa que lhe atrai, e colabore! Faz bem pro coração repartir o que nos é excesso, e é mais louvável ainda repartir aquilo que nos faria alguma falta. É uma das formas de mostrar gratidão pelo que temos :)
A terceira, por fim, é uma mistura das duas primeiras: vamos combinar que, nesse campo das lutas sociais e causas a favor dos desfavorecidos, não se pode julgar e invalidar qualquer (qualquer!) esforço no bem. Toda energia empenhada no bem é válida! E vc que ajuda, não esmoreça diante das críticas! Ser a pessoa com mais consciência numa interação com outro ser significa que a responsabilidade de compreender é sua.
Resumo da ópera, como sempre, é: MAIS AMOR!
Por favor, quem sentir que essa causa é sua também, ajude os guarani-kaiowá através da vakinha, até 27/09!
E se inteire da situação acompanhando páginas no facebook como a da Mobilização Nacional Indígena, a dos Terena, de ativistas como a Denizia, a Yara
Bjs, com carinho,

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Abrir os olhos pode ser a coisa mais dolorosa que você já teve que fazer

Escrevi esse post em 2015, enquanto ainda era vegana; hoje não sou mais, como contei aqui. Deixo o post em sua forma original, sendo que o P.S. lá no fim escrevi agora, no fim de 2016.
Oi!
Hoje eu queria apresentar melhor um assunto que eu nem conhecia há um ano, e que se transformou na minha ótica de saúde e de alimentação, porque cada vez mais vejo a relação determinante entre as duas.
A primeira necessidade nesse aprendizado, como em todos os aprendizados libertadores: é essencial se desapegar do senso comum. Essencial se desapegar do "ah mas isso é vendido como saudável na propaganda da tv", essencial se abrir para o novo e estar alerta para enxergar com cautela o que a mídia, os estudos científicos, o senso comum escolar e universitário repassam de informação, pois existem motivos diversos pelos quais essa informação pode estar equivocada. É preciso aprender a desaprender para reaprender (li essa frase incrível numa camiseta-recompensa por ser sócio do Recorrente, uma iniciativa brilhante)! E principalmente exercitar o seja seu próprio laboratório no que for importante para a sua saúde. Teste! Não tenha medo, preguiça, resistência a mudar um hábito alimentar por algumas semanas e ver o que acontece :)
Digo isso porque, à medida que vamos nos apropriando das informações importantes para a nossa alimentação e saúde, à medida que deixamos de terceirizar para o rótulo no supermercado o veredito sobre o quão saudável é aquele produto, a gente vai se familiarizando com a dura realidade a respeito dos interesses escusos que muitas vezes movimentam a ciência, a mídia, a política de governo para a educação do povo, e a gente entende que precisa questionar TUDO.
Os governos, será que eles querem uma população lúcida e atuante, ou pessoas presas no ópio de todos os tóxicos e da tv, versão moderna do pão e circo? Por que será que nas escolas ninguém aprende sustentabilidade de verdade, ou como funciona o INSS e o judiciário e o processo legislativo e como estudar, como ter discernimento em relação à informação que nos chega? Nos dão informações prontas para serem acreditadas, não questionadas. Nos fazem acreditar que sempre foi assim, 10% mais ricos têm mais dinheiro que os 80% mais pobres e o que dá pra fazer é com esforço passar do lado pobre pro lado rico, porque assim sempre será. Nos fazem acreditar nisso através do panorama muito complexo: as mazelas sociais e deturpações econômicas não têm culpados facilmente identificáveis, tudo é muito maior do que nós e que a nossa capacidade de fazer diferente, aí pra não se amargurar a gente esquece de tudo isso e vai pra festa tomar todas e ficar muito louco, ou vai fazer um brigadeiro e assistir um filme com uma história de final feliz. :-(
Matrix, a analogia perfeita. E isso não é uma indireta pra alguns, porque serve ou já serviu pra TODO mundo!
Em relação à saúde, a indústria farmacêutica é isso: uma indústria, que precisa de clientes, de preferência permanentes. Promover saúde dá bem menos dinheiro que combater doença. Promover saúde com alimento barato então, vish. Se o interesse da indústria é proteger seu lucro, aquele nível de investimento que eles colocam na pesquisa, será que vai ser no sentido de encontrar formas de não ficar doente? Sabe a diferença entre o dinheiro injetado na pesquisa pelas empresas com interesse financeiro em comparação com o dinheiro disponibilizado para pesquisas isentas, por outras entidades e universidades? É uma batalha inglória. 
Algum lugar dentro de todos nós sabe que correr pra churrascada e cervejada e sobremesa açucarada, dormir pesado e acordar embotado não é o caminho, e ainda assim é o que as pessoas consideram diversão e confraternização hoje. A gente vai deixando de lado essa voz que nos diz que isso não é jeito de se viver, porque todo mundo faz, porque mudar é difícil, porque todo mundo tem que morrer um dia, porque a vida já é tão dura que a gente precisa extravasar, e assim vai.
E, mesmo assim, as informações do bem, do interesse real na saúde, estão se espalhando, na minha opinião muito porque a internet minou o monopólio da mídia tradicional. Quem tem interesse em comum, por mais contrário que seja ao interesse do grande capital, agora se encontra muito mais fácil via virtual. E assim a disseminação de saberes não fica sequestrada pelos meios oficiais, e o que interessa e funciona para as pessoas acaba criando volume, chegando a cada vez mais pessoas, até nós aqui, conversando sobre todas essas coisas agora. 
Por isso eu digo: abra-se para o novo, para o diferente! É a nossa saúde que está nesse jogo! Não precisa virar um cético pessimista desconfiado de tudo. Simplesmente ative o seu lado crítico: quem disponibilizou essa informação? A que interesse econômico esse alguém atende? Será que um dia esse alguém, ainda que bem intencionado, questionou o que aprendeu na faculdade, foi atrás de outras possibilidades ou tá fechado no quadradinho? E não seja um extremista também, aquele que pensa que, se fulano diz que tem por missão ajudar as pessoas e cobra pela consultoria alimentar, então ele só quer ganhar dinheiro e não dá pra dar crédito para o que ele tá dizendo. As pessoas precisam sobreviver e querem trabalhar com o que amam. Se amam alimentação crua, sentem no corpo os benefícios que ela traz, querem ensinar para cada vez mais pessoas e as pessoas estão atrás desse aprendizado, é justo que essa seja sua fonte de renda. Isso não invalida sua mensagem. 
A maioria das pessoas se vê na necessidade de buscar novos caminhos poque os caminhos tradicionais falharam miseravelmente, e elas estão com doenças crônicas, doenças agudas, doenças psiquiátricas. Ou pelo menos, como era o meu caso, vivem de dieta e sem energia, com problemas digestivos, problemas de pele, todos precursores daqueles primeiros mais graves. É fato que a nossa sociedade é doente hoje: a economia com o paradigma furado da necessidade de crescimento infinito, tanto avanço científico, e as pessoas vivendo pra ganhar dinheiro, descontando estresse no consumo, pagando o tarja preta na farmácia. Cadê a felicidade advinda de toda essa suposta evolução? Cadê a saúde, a graça na vida, a força interior das pessoas, os vínculos reais? Por que tantas bengalas-vícios em que a gente tem que se apoiar? 
Por tudo isso a importância de se reconhecer que do jeito que vai não dá mais, de se libertar dos preconceitos, de aceitar que aquele shake incrível com uma lista de 50 ingredientes - 80% deles químicos - pode não ser o melhor pra sua saúde mesmo te fazendo emagrecer, aceitar trocar o café-com-leite-que-eu-tomo-desde-criança-de-manhã por alguma outra coisa melhor pra saúde ainda que o paladar resista, se libertar das suas próprias amarras do hábito, se apropriar desses aprendizados, testar o que fizer sentido pra vc a partir das suas próprias pesquisas. Me parece que a escolha é 1) se dar conta de tudo isso e mudar antes da doença, ou 2) ser forçado a mudar pela doença. Eu espero, de coração, que as pessoas acordem para a primeira opção o tanto quanto possível. E o que eu posso fazer para isso é compartilhar ao máximo os saberes das pessoas que fizeram diferença pra mim, que me ajudaram nesse processo de romper minhas barreiras, e compartilhar minhas próprias experiências nesse processo. É o que eu tenho tentado fazer, com muito carinho!
Como a conversa já está muito comprida, fica por hoje só um resumo do caminho que estou buscando e no qual acredito hoje: o alimento sendo remédio, e remédio sendo alimento, na sabedoria sempre atual de Hipócrates. Alimento promotor de saúde é de origem vegetal, cru ou germinado, orgânico, não industrializado, alcalinizante, cheio de energia vital, com enzimas ativas e colaborando na digestibilidade, não demandando energia excessiva do corpo para sua metabolização. Claro que esse é um ideal que dificilmente é atingido do jeito que a vida funciona hoje, nosso país imerso em agrotóxicos, cultura do senso comum tão diferente disso, opções raras de comer na rua. Mas ideais são necessários para nortear nossas escolhas!
Tem um vídeo de 7 minutos, chegado a mim via facebook, do Dr. Leonard Coldwell, que foi meu primeiro contato com a dieta vegana crudívora como maior promotora de alcalinização e prevenção ao câncer, há exatamente um ano. Eu ainda comia carne, era muito viciada em laticínios e açúcar e refrigerante zero e sofria de todo tipo de desconforto gastrointestinal possível. Ainda tenho muito a fazer pra me melhorar, mas quando olho pra trás não acredito em como eu vivia há um ano. Hoje, vegana e mais de metade da alimentação crua ou viva, açúcar muito eventualmente, industrializados próximos de zero, frequentadora assídua de feira orgânica, nada de refri nem bebida alcoólica... a gratidão é imensa por ter encontrado os caminhos, e o esforço pra me melhorar foi incomensurável! Eu sempre me considerei uma pessoa aberta para pensar diferente, e mesmo assim implementar uma mudança não é algo automático a partir da nova informação recebida. Normalmente a gente tem um tempo de metabolização daquela informação, de reflexão sobre os nossos hábitos, de sentir o desconforto dos hábitos antigos agora sabendo que existe um caminho melhor, aí a consciência começa a doer por saber o caminho e não seguir, aí a gente vai se preparando aqui e ali pra mudança, e aí a gente muda. Tem muita energia envolvida sim. Mas investimentos de tempo e energia em saúde fazem sentido, não fazem?
"Para ser livre, tem-se de começar pela preciosa coragem de ser diferente." Professor Hermógenes
Hipócrates, considerado o pai da Medicina, um completo visionário para o seu tempo lá em 500AC, inaugurou o entendimento de que o alimento fosse o remédio das pessoas. Ele tinha uma visão global de saúde mental, emocional e física, e nesses termos elava filosofia e medicina de forma pioneira. Sua visão era tão revolucionária que sua escola não manteve a mesma linha depois de sua morte, perdeu-se da filosofia e levou esse tempo todo para que hoje se retomasse aquele conhecimento, já num outro nível de maturidade científica. Por isso se diz que a evolução não se faz em círculos, e sim em espiral - estamos de volta ao Hipócrates, mas uma volta acima da espiral - ou duas, ou três, se considerarmos os estudos de Paracelso e de Hahnemann, o pai da Homeopatia. Assim como a permacultura, a saúde pela alimentação também não é inovação, é retomada, é retorno ao que esquecemos, ao que já houve um dia e foi deixado de lado pela sociedade em favor de outros interesses.
Eu ainda pretendo falar muito sobre isso, mas quem quiser ir pesquisando, além dos links sobre alimentação crua e viva que estão na página Links, preciosos links, eu ainda acompanho o trabalho de outras pessoas na promoção de saúde através da alimentação. Vou deixar os links para as páginas deles no facebook, aí quem quiser encontra os blogs, vídeos e páginas pessoais a partir da rede, ok?
Instituto do Alimento Vivo, da Fátima Alves - ela promoveu o SEMAV - Semana da Alimentação Viva, um congresso virtual, em maio desse ano. Foi quando eu me abri de verdade pra alimentação viva e crua e através das palestras do SEMAV que eu conheci o pessoal dessa lista.
Culinária Viva, da Juliana Malhardes, muitas dicas de como integrar a alimentação viva na realidade de correria e da família que estranha a mudança, receitinhas etc.
Rede Verde, da Anne-Sophie Bertrand, a ONG tem mais info de sustentabilidade, mas tem vídeos legais no youtube dela com dicas de como ser um crudivegano sem tempo nem dinheiro e com receitas :) Ela é linda demais, dá gosto de assistir!
Saúde Frugal, do Eduardo Corassa, ele divulga a dieta higienista hipolipídica, baseada em frutas, verduras e sementes sem qualquer tipo de preparo modificador de sua estrutura química, aliado a um cuidado com as combinações de alimentos, para minimizar a demanda energética da digestão.
Comida ecológica, do Daniel Francisco de Assis, ele também fala muito sobre a mudança de pensamento de que estamos falando aqui, além da dieta crudi, e tá planejando uma ecovila vegana crudívora boa demais pra ser verdade, rsrs
Belle Verte, do Leo Caputti e da Timi, com foco em como viver sem glúten e açúcar.
Alkaline Man, ou Daniel Rocha, é uma figuraça muito diligente na divulgação da mudança alimentar e da dieta crua alcalina, o face dele é bem legal de seguir e ele tem muitos vídeos que eu acompanho. A história dele é incrível, ele era obeso e a vida dele mudou totalmente com a mudança de alimentação.
A Amarantha Ribas, médica nutróloga mais linda do mundo, minha esperança na mudança de paradigma nutricional na medicina brasileira, junto do Dr. Alberto e provavelmente mais alguns que eu desconheço (tá crescendo!).
Vou repetir o Elias Pereira, que já está na página de links, porque muito do que eu faço hoje me foi apresentado por ele nos seminários online. Ele trabalha com pessoas gravemente doentes, melhorando a qualidade de vida e colecionando histórias de cura através da dieta.
Outro achado foi a Irene Bueno, espanhola divulgadora da alimentação viva. Esse é o compilado argumentativo mais legal que já vi, do porque ser vegana e crudívora - de autoria dela, está em vários sites espanhóis. Só não achei em português, mas dá pra contar com a nossa habilidade no portunhol pra entender tudo ;-)
Exemplo de dica quente do Elias. Abre pra ver!
O interessante é que o padrão é esse pessoal compartilhar a mesma história: viviam doentes por causa dos hábitos herdados da sociedade, e presenciaram em si mesmos a mudança e a saúde, e quiseram compartilhar essa notícia com o mundo, e estão fazendo disso sua missão e meio de vida. A outra coisa em comum é a vibração incrível das pessoas que se alimentam dessa forma. A nutrição crudivegana atua também em nível energético e abre o caminho para o amor, a alegria e a paz, são pessoas integradas na natureza, atentas ao bem de todos. É impressionante, e é prova de como somos uma unidade, e de que o que se faz no físico atua no emocional, no mental, totalmente em sinergia.
Lembrando os navegantes eventualmente desconfiados que não ganho nem um centavo com divulgação, tá? Essa gente nem sabe que eu existo, haha... porque sou mais uma de milhares de pessoas passando pela mesma ruptura e descoberta através deles. É uma rede do bem incrível! E fico com uma vontadinha de passar uma temporada no Rio de Janeiro, onde o alimento vivo é presentíssimo, onde começaram o Biochip e o Terrapia, dois projetos de extensão em universidades que há décadas promovem a sua divulgação (também peguei muitas dicas com ambos, vale o acesso!). No Rio também é onde está a maior parte dos disseminadores, onde tem vários restaurantes crudívoros :)
Terrapia e alegria de estar entre pessoas que vivem realidades próximas. Também querooo kkkk
Então era isso por enquanto sobre alimentação! Se tiver dúvidas do porquê escolher o crudiveganismo, eu sugiro o link da Irene acima. Não importa o caminho alimentar que vc resolva seguir, já que existem diversas vertentes e teorias sobre o que é benéfico para a saúde; importa é que seja uma escolha consciente, que se busque o conhecimento e que se decida, em vez de só ir com a galera, sem nunca questionar. Dói ter que mudar, mas depois da mudança, a gente olha pra trás e dá graças... fica tão feliz de não ter se entregue à apatia, tão feliz de estar vivendo tudo o que a vida pode ser de boa, de forma real e consciente :)
Bjs com carinho,

P.S.: Depois de muitos testes, vi que pra mim o alimento germinado e o excesso de fibras é bem indigesto, me causa um super inchaço, descobri que algumas pessoas tem essa dificuldade - nesses casos, o suco verde coado é muito bom, assim como vegetais e frutas menos fibrosos. Hoje sou ovolactovegetariana e tento equilibrar a alimentação crua com todo o mais de forma a me sentir bem da digestão, e compartilhando sem sofrência os momentos de confraternização que envolvem alimentos com as pessoas que amo. Tá muito bem assim :)

domingo, 20 de setembro de 2015

Apadrinhamento e a arte de falar de amor

Oi pessoal!
Eu estava pensando mais cedo no meu afilhadinho da Actionaid e que tenho que escrever para ele, e lembrei de contar aqui sobre essa experiência muito legal que é apadrinhar uma criança através da Actionaid.
O legal deles é que eles efetivamente viabilizam um vínculo entre a gente e uma criança de uma das comunidades assistidas pela ONG, quando a gente faz uma contribuição regular mensal. A gente recebe cartinhas da criança e é encorajado a escrever para ela também; a cada 6 meses eles promovem um dia cheio de atividades para as crianças da comunidade, e nesse dia os pequenos recebem as cartinhas que foram enviadas pelos padrinhos, e escrevem ou desenham uma cartinha para nós, que depois nos é enviada.
Isso retoma uma coisa muito legal que existia lá no antigamente, que era receber cartas pelo correio pra variar, em vez de só contas e propagandas hehe. A surpresa e a alegria da chegada de uma carta de alguém querido, quem aí lembra??

Isso tem uma graça muito especial para mim porque uma das coisas que eu mais prezo na vida é falar de amor. Falar de amor é o nome genérico que eu dou para manifestações escritas ou faladas de carinho e gratidão, esse exercício que faz um bem danado pra quem estende a energia e para quem a recebe. Numa época de volatilidade das relações e correria, gastar um tempo para escrever umas palavras à mão para alguém que se ama é um gesto com muitas camadas de significado... e, ainda que a pessoa que as recebe não se dê conta de todas elas, não é só esse o foco: falar de amor enche de poesia a vida de quem o faz. Fortalece os vínculos, é um reconhecimento que aumenta a nossa capacidade de sentir e a beleza das relações dentro de nós. Colocar o amor e a gratidão em palavras ainda nos deixa em paz com a consciência! Sabe aquela sensação de "se fulano se for antes da hora, vai ter tanta coisa q eu queria ter dito"? Ela não existe, porque as coisas importantes estão sendo ditas à medida que a vida acontece.
Quem convive de perto comigo sabe que nessas datas comemorativas não adianta esperar presente material de mim, mas minhas palavras sempre vão chegar. E não importa o cartão: cansei de escrever em folha de rascunho, o outro lado com uma impressão descartada qualquer... quando é alguém mais de longe, também não importa se a gente escreve via teclado em vez de caneta, não importa se é um áudio no whatsapp ou palavras especiais ditas num abraço - não importa a forma, importa o conteúdo, e quem se sente inibido para fazê-lo, saiba que é uma questão de prática até se tornar mais natural. Quem não é muito adepto, eu sugiro que abra o coração para tentar e sentir!

Eu entendo que muita gente gosta de presentear como um forma de expressar esse mesmo amor... é só que verbalizar sentimentos tem um poder único! Além disso, para mim é um ato de transgressão consciente transformar a data comercial, criada pra fomentar a continha no shopping, em um momento de falar de amor, e só. Se eu achar alguma coisa numa loja que eu ache a cara de alguém, ou algo de que a pessoa tá precisando, o mais provável é que o presente venha fora de datas-padrão.
Mas então, voltando para a actionaid. A gente pode escolher apadrinhar uma criança quando contribui mensalmente, e eu fui madrinha da Conceição por 7 anos, até ela fazer 18 anos. Ela mora no interior do Piauí, numa comunidade de mulheres quebradeiras de coco de babaçu. Eu recebia informativos de como a Actionaid estava atuando naquela comunidade, viabilizando políticas públicas que permitissem a atividade tradicional daquelas mulheres, legalizando o acesso às áreas de extração; organizando a comunidade e capacitando as envolvidas para fazerem beneficiamento do óleo e demais produtos do coco, a fim de aumentar a renda; promovendo a organização e autogestão da comunidade, a fim de reverter parte dessa renda à construção de espaços de convívio e aprimoramento dos processos de trabalho. Acho um trabalho lindíssimo, de criar elos na comunidade, de transformar um grupo vulnerável em agente mais capaz de se gerir e com mais voz política na região. E eu recebi cartinhas da Conceição todo semestre, e duas fotos dela ao longo desses 7 anos. Pude ver a letra dela tomando forma de letra de adulto, ela me contando sobre a vida da comunidade, sobre a sua família e seus hábitos, seus agradecimentos pelo carinho com que eu escrevia para ela.
Aos 18, as crianças saem do programa de apadrinhamento, mas ficam no coração da gente pra sempre! Agora, eu tenho como afilhado o Davi Luis, que me foi apresentado com fotinho faz uns meses. Ele ainda não escreve, é bem novinho; teremos muitos anos de cartinhas pela frente... que bom!!
Bjs


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Compostagem com minhoquinhas

Olá!
Eu estava há meses esperando ansiosamente a hora em que eu teria uma mídia pra mostrar pra galera o nosso minhocário lindo. A hora chegou! Rá!
Desde que começamos a ampliar a consciência ecológica aqui em casa, uma das coisas que mais incomodava eu e o Rô era o lixo que ia fora direto. 
Aparte permacultor: hoje nós vivemos num sistema linear de extração, industrialização, distribuição, consumo, rejeitos, lixo e alguma pouca coisa de reciclagem. O caminho inevitável desse sistema é montoeiras de lixo! Não se pode gerir um sistema linear a partir de recursos finitos. A gente precisa apropriar a sabedoria da natureza, que gere todos os seus recursos em ciclos, para que tudo sempre se renove, se redisponibilize!
Então, pra implementar um pouco de ciclo na nossa vida alimentar, começamos a catar uma possibilidade de compostagem que fosse adaptável a apartamento, principalmente que não desse cheiro nem juntasse moscas.
Acabei encontrando na santa internet o modelo de compostagem minhocário com três caixas, que foi disponibilizado para muitas pessoas pela visionária gestão atual da Prefeitura de São Paulo através do projeto Composta São Paulo. Achei uma empresa que faz o minhocário aqui pertinho, em Florianópolis, e mandamos vir um de lá, curiosíssimos com a ideia de minhoquinhas chegando pelo correio - com a nossa inexperiência e falta de rede local de ecocontatos na época, entre 1) comprar o kit pronto deles e 2) fazer o minhocário conforme eles ensinam no site sem ter muita certeza do tipo de caixa, e ter que ir atrás das minhocas e de tudo mais, achamos que era melhor a 1a opção hehe! Essa escolha também é por uma escolha nossa de, se a gente pode bancar, estimular comércios locais com enfoque ecológico e social legal. Eles são tão lindos que têm um tutorial mostrando como fazer em casa o produto que vendem, isso que é compromisso com um mundo melhor! Minhocário Caseiro do coração <3 Também achei essa outra empresa de SP, que só fornece minhocas localmente.
Rô interagindo com nossas filhotas minhocas :-D
Encomendamos e, enfim, elas chegaram!! Vieram nesse saco verde de TNT cheio de terra, dentro de uma das caixas. Veio também serragem, a colher de pau pra mexer na terra, a torneirinha pra instalar na caixa de baixo, para esvaziar o líquido que acumula lá e que é um biofertilizante. Pra começar a usar, é só ir enchendo a primeira caixa de restos orgânicos (de preferência crus, sem muito sal nem muita gordura, sem excesso de cítricos - o site do Minhocário Caseiro tem todas as dicas), sempre cobertos por serragem, e quando a caixa de cima encher troca de lugar com a do meio; ambas tem furinhos para circulação das minhocas e para descer o líquido que fica acumulado na caixa de baixo.
No início, pareciam poucas minhocas - elas começam a vida com a mesma forma de adultas mas minúsculas, finas igual fio de cabelo, chega a ser difícil identificar. Hoje, depois de uns três meses, é minhoca que não acaba mais, de todos os tamanhos! É impressionante como elas proliferam e decompõem rápido os alimentos! Elas realmente viabilizam esse modelo em espaços menores, pois sem elas o volume de matéria orgânica que juntaria até a decomposição acontecer seria bem maior. Parece que essa é uma especificidade das minhocas californianas, essas mais vermelhinhas, que são as próprias para compostagem doméstica.
Eu sou bem cuidadosa pra não desperdiçar comida e ficava sofrendo por dentro de ver qualquer coisa ir pro lixo orgânico. Agora os restinhos vegetais, cascas, saquinhos de chá, vão todos lá virar húmus, biofertilizante e alimentar nossas filhotas. Como uma boa casa veg, praticamente todo o resíduo do nosso alimento é compostável nesse modelo :) Por essa medida e outras relativas a lixo seco, que vai ser assunto de outro post futuro, o nosso lixo que vai pra rua tá consideravelmente menor, uhu!! 
Um outro aparte, em relação ao veganismo e utilização das minhocas: eu, particularmente, não entendo de forma irrestrita que qualquer interação com animais seja exploração independentemente de sua natureza... se eu acredito em cooperação entre humanos, entre humanos e a natureza - se eu planto, dou nutrientes para as plantinhas e depois faço uso dos seus frutos para me alimentar -, não faz sentido excluir os animais dessa rede, dentro da ótica de respeito e gratidão com que temos de nos relacionar com todos os elementos da vida. Sou bem cuidadosa com meus alimentos (inclusive os escondidos, como os corantes de insetos), com vestuário animal, pois entendo que essas relações sejam exploratórias. Mas, para o nível de senciência das minhocas e as condições do ambiente no qual elas vivem estando no minhocário, e meu usufruto apenas do resultado natural da presença delas no ambiente, será que esse uso é uma exploração? Se num mundo hipotético lindo, eu tivesse ovelhinhas e galinhas num santuário ecológico pra bichinhos que escaparam da morte, haveria algum problema de fazer uso da lã da tosa, se tosa fosse necessária, ou dos ovos postos, considerando que eles estariam vivendo com as melhores condições que poderíamos dar a eles? Dei uma procurada e não achei na net nenhuma discussão sobre minhocários e veganismo, essa acima é só a minha opinião e a forma como eu entendo a questão, e o motivo pelo qual não acredito que haja algum problema na minha relação com as minhoquinhas. Acho que em toda ideologia, toda escolha deve haver uma ponderação de entender a motivação que nos leva àquele comportamento, para nunca perder o foco do nosso objetivo com aquela escolha... a fim de não nos tornarmos apenas seguidores cegos de uma doutrina ditada. A decisão é fácil quando a questão ética é óbvia, tipo os animais de corte; mas em algumas situações realmente se torna necessária essa reflexão. Se a pessoa pensa a respeito e conclui que deve ser estritamente contra qualquer uso, beleza também; o importante é que o comportamento seja consciente, motivado!
Dito isso, me parece que o mais difícil no processo de fazer seu próprio minhocário é o acesso às minhocas californianas, então pessoal de Porto Alegre e região!! Me disponho a doar minhoquinhas a quem já tenha o minhocário pronto e se comprometa a dar um ambiente nutritivo e saudável pra elas :) Comente, mande e-mail, dê uma chance pra compostagem! É lindo, é mais vida dentro de casa, é menos lixo pra rua, é muito amor!
Bjs