quarta-feira, 30 de maio de 2018

A dor e a trégua


A gente não percebe o valor da saúde até perdê-la.
Não lembro onde li isso, há tempos, mas guardei pra mim. Passei a vida sendo grata pela minha saúde e pela liberdade que ela sempre me permitiu, mas, tendo sido essencialmente saudável minha vida toda, essa gratidão era racional, daquela que só poderia imaginar uma circunstância de ausência de saúde.
Agora, nessas semanas em que a minha vida se reduziu a investigar as dores articulares intensas que têm me acometido, parece que eu estou finalmente experimentando gratidão pelo meu fisico de forma vivencial. É a vivência que toca nossa emoção, permite a sensação plena de rendição e agradecimento ao plano maior da existência que está ali nos proporcionando aquele momento.
Às vezes, os vários remédios que estou tomando me permitem momentos sem dor ou quase sem dor. Tenho saboreado essas horas com uma gratidão devocional, que jamais senti diante do meu corpo sempre são. Me faltava essa vivência da dor intensa e persistente. Agora vivo, integralmente, com consciência, os momentos de corpo que não dói. Essa foto, com a Preta, nossa filha cusca, foi um momento de trégua, desses que eu tenho vivido com alegria e consciência. Não sei ainda um diagnóstico; não sei se uma crise apenas ou algo crônico; nesse mar de incertezas, só sei que há dessas tréguas. E eu as tenho vivo com gratidão. Os momentos de dor, busco vivê-los sem resistência, dando espaço para que surja em mim o que eles vieram me ensinar, para que o meu corpo depure o que da minha história pretérita não me serve mais. Na dor e na trégua, exercícios de viver o agora.
Imagino que dessa fonte de consciência surgem os depoimentos de pessoas que dizem que as doenças fisicas lhes mudaram a vida, a forma de ver as coisas. A vivência é muito poderosa.
E que seja de mim o que tiver que ser! Estou fazendo minha parte para que seja cada vez mais amor, saúde e consciência :-)
Bjs

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Abraçando o que vier


Estou em retiro.

Uma situação de saúde me chama a atenção: ei, olha para a Fê-corpo, olha para a Fê-alma.
Sincronamente, o mundo à minha volta entra em retiro também - nossos planos práticos pessoais, as programações de todos à nossa volta, o país, tudo estaciona, na falta de meios de deslocamento, nas convulsões da greve.
Em meio a situações pessoais e coletivas que despertam a ansiedade do porvir, tenho feito meu esforço de viver o agora. Três seres, principalmente, sustentam esse momento e essa retirante que sou e estou: meu amor, que é meu co-aprendiz nessa estrada que graças a tudo que há de mais sagrado nos permitiram compartilhar; nossa filhota Preta, que me faz apenas ser, quando sento com ela no colo fazendo um cafuné, quando cuido dela e das suas necessidades; e o querido Marco Schultz, o professor que fala de um jeito que meu ouvido e coração sabem ouvir. Logo mais há um retiro com ele em SP, ao qual intencionei ir - tudo bem, se estamos longe, porque há o youtube me trazendo a boa nova através de suas palavras também.

O Marco me diz (aos 1:12 deste vídeo):
"o que acontece normalmente é: vem frustração e a gente resiste, a gente não quer sentir, a gente não acolhe. O yoga, o sadhana do yoga seria acolher essa frustração e ficar com o mistério disso: do acolhimento, do exercício de não criar resistência com aquilo que não é agradável, que é desconfortável. Esse encontro, ou seja, essa oferenda, esse acolhimento, esse pertencimento para a frustração, ao invés de a gente sempre tabelar frustrações como algo negativo, desagradável - não, é algo que compõe, faz parte; é ali que o mistério acontece. Esse teu exercício de acolhimento é a ponte. E, de repente, sem a resistência, a frustração pertencendo, já não é mais frustração. É quase como você tá tudo bem, mesmo quando não tá tudo bem. Mas tu não tem algo contrariando o "não tá tudo bem", porque tem um algo "tudo bem" antes. E não é conceito, não é uma gaveta egoica se abrindo, não é você não dando bola, e isso que é interessante, pq é através do karma, muitas vezes difícil, difícil - a vida tá dificil, mas hoje eu conheço um lugar onde eu reconheço que esse difícil passa. E que, se houve a manifestação do difícil, resta-me, a nível do exercício, na escola da vida, aprender a acolher o difícil também. E de repente acolhendo algo do mistério - pq o ego não faz isso, o ego não acolhe o difícil, o ego resiste ao difícil; então, que mistério é esse, em mim e em você, que acolhe o difícil? Eu poderia dizer que já é o Eu Maior acontecendo. É da gente fidelizar essa investigação - essa realização ou possibilidade de realização: que mistério é esse que acolhe o sofrimento? E olha que bonito, e não meramente bonito, mas que milagroso: eu comentei do Buddha - quando ele acolheu a verdade do sofrimento, dele mesmo, como Sidarta Gautama, e, sendo assim, de todos, porque, veja bem, através do acolhimento dele com ele mesmo, ele realizou a falência do personagem egóico em cada um/todos nós, seres humanos. E o que não é isso? Você sair da tua experiência pessoal, porque ela não é meramente uma experiência pessoal, é da realidade da humanidade em você, ou seja, você-humano também; mas abriu-se compaixão. Porque o acolhimento do sofrimento é a realização da compaixão. Olha que forte: a gente fala de compaixão, escreve livro de compaixão, mas existe um preço pra de fato tu ter realização do que é compaixão, que é estado, não é um sentimento. Compaixão é um estado, e o preço é esse, é você acolher o próprio sofrimento. E aí, que incrível, né - será que é sofrimento, então? Se você tá num estado de compaixão, será que tu sofre, mesmo?"

:-)