domingo, 20 de setembro de 2015

Apadrinhamento e a arte de falar de amor

Oi pessoal!
Eu estava pensando mais cedo no meu afilhadinho da Actionaid e que tenho que escrever para ele, e lembrei de contar aqui sobre essa experiência muito legal que é apadrinhar uma criança através da Actionaid.
O legal deles é que eles efetivamente viabilizam um vínculo entre a gente e uma criança de uma das comunidades assistidas pela ONG, quando a gente faz uma contribuição regular mensal. A gente recebe cartinhas da criança e é encorajado a escrever para ela também; a cada 6 meses eles promovem um dia cheio de atividades para as crianças da comunidade, e nesse dia os pequenos recebem as cartinhas que foram enviadas pelos padrinhos, e escrevem ou desenham uma cartinha para nós, que depois nos é enviada.
Isso retoma uma coisa muito legal que existia lá no antigamente, que era receber cartas pelo correio pra variar, em vez de só contas e propagandas hehe. A surpresa e a alegria da chegada de uma carta de alguém querido, quem aí lembra??

Isso tem uma graça muito especial para mim porque uma das coisas que eu mais prezo na vida é falar de amor. Falar de amor é o nome genérico que eu dou para manifestações escritas ou faladas de carinho e gratidão, esse exercício que faz um bem danado pra quem estende a energia e para quem a recebe. Numa época de volatilidade das relações e correria, gastar um tempo para escrever umas palavras à mão para alguém que se ama é um gesto com muitas camadas de significado... e, ainda que a pessoa que as recebe não se dê conta de todas elas, não é só esse o foco: falar de amor enche de poesia a vida de quem o faz. Fortalece os vínculos, é um reconhecimento que aumenta a nossa capacidade de sentir e a beleza das relações dentro de nós. Colocar o amor e a gratidão em palavras ainda nos deixa em paz com a consciência! Sabe aquela sensação de "se fulano se for antes da hora, vai ter tanta coisa q eu queria ter dito"? Ela não existe, porque as coisas importantes estão sendo ditas à medida que a vida acontece.
Quem convive de perto comigo sabe que nessas datas comemorativas não adianta esperar presente material de mim, mas minhas palavras sempre vão chegar. E não importa o cartão: cansei de escrever em folha de rascunho, o outro lado com uma impressão descartada qualquer... quando é alguém mais de longe, também não importa se a gente escreve via teclado em vez de caneta, não importa se é um áudio no whatsapp ou palavras especiais ditas num abraço - não importa a forma, importa o conteúdo, e quem se sente inibido para fazê-lo, saiba que é uma questão de prática até se tornar mais natural. Quem não é muito adepto, eu sugiro que abra o coração para tentar e sentir!

Eu entendo que muita gente gosta de presentear como um forma de expressar esse mesmo amor... é só que verbalizar sentimentos tem um poder único! Além disso, para mim é um ato de transgressão consciente transformar a data comercial, criada pra fomentar a continha no shopping, em um momento de falar de amor, e só. Se eu achar alguma coisa numa loja que eu ache a cara de alguém, ou algo de que a pessoa tá precisando, o mais provável é que o presente venha fora de datas-padrão.
Mas então, voltando para a actionaid. A gente pode escolher apadrinhar uma criança quando contribui mensalmente, e eu fui madrinha da Conceição por 7 anos, até ela fazer 18 anos. Ela mora no interior do Piauí, numa comunidade de mulheres quebradeiras de coco de babaçu. Eu recebia informativos de como a Actionaid estava atuando naquela comunidade, viabilizando políticas públicas que permitissem a atividade tradicional daquelas mulheres, legalizando o acesso às áreas de extração; organizando a comunidade e capacitando as envolvidas para fazerem beneficiamento do óleo e demais produtos do coco, a fim de aumentar a renda; promovendo a organização e autogestão da comunidade, a fim de reverter parte dessa renda à construção de espaços de convívio e aprimoramento dos processos de trabalho. Acho um trabalho lindíssimo, de criar elos na comunidade, de transformar um grupo vulnerável em agente mais capaz de se gerir e com mais voz política na região. E eu recebi cartinhas da Conceição todo semestre, e duas fotos dela ao longo desses 7 anos. Pude ver a letra dela tomando forma de letra de adulto, ela me contando sobre a vida da comunidade, sobre a sua família e seus hábitos, seus agradecimentos pelo carinho com que eu escrevia para ela.
Aos 18, as crianças saem do programa de apadrinhamento, mas ficam no coração da gente pra sempre! Agora, eu tenho como afilhado o Davi Luis, que me foi apresentado com fotinho faz uns meses. Ele ainda não escreve, é bem novinho; teremos muitos anos de cartinhas pela frente... que bom!!
Bjs


2 comentários:

  1. Minha filha querida, meu coração fica muito feliz quando leio teus escritos amorosos e cheios de conteúdo, que podem ajudar e motivar pessoas... Como diz a tia Anajé, fostes iluminada por um Poder Maior do que nós. Tens aqui uma fã, talvez a maior delas.

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    1. Mãezinha amada! :) Teu comentário ficou pelo login do blog depois q eu entrei aí no teu pc haha... te amo!! Obrigada por tanto, por sempre!

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