quinta-feira, 27 de abril de 2017

Interiorizando, afinal!

Oi queridos :)
Hoje é 18 de dezembro de 2016 e estou escrevendo esse post para que ele seja postado em algum momento do início do ano que vem.
É um post em comemoração à minha remoção! Hoje, 18 de dezembro de 2016, ela ainda não aconteceu, mas eu resolvi escrever desde já porque 1) não terei tempo de escrever uma vez que a remoção saia, já que eu vou estar bem envolvida com a mudança, e 2) porque nesse momento, dezembro de 2016, é disso que eu tenho vontade de falar. Ontem encontrei várias pessoas queridas numa feira de rua de produtos orgânicos e artesanais em Novo Hamburgo, e naquela conversa de oi-tudo bem-como vai com elas eu me dei conta de que só o que saía naturalmente como definição do meu status presente é: "tá tudo lindo, me preparando pra morar no interior". É o meu estado real, sincero, que eu parei de negar com medo de estar caindo na armadilha da antecipação, e que curiosamente agora tá bem dissociada da aflição da qual eu falei aqui, durante os processos de remoção anteriores, que tomaram todo o nosso ano de 2016. Eu já quis muito controlar e planejar o momento da nossa ida pro interior, e claro que isso trouxe uma carga considerável de sofrimento. Mas sinto que o que eu vivo hoje não é isso. Aqui, agora, é um aproveitar cada dia aqui na vida de região metropolitana, no apartamento com vista pra garagem, e me dar conta de que as coisas que naturalmente despertam meu interesse hoje vão ter muito mais espaço num ambiente de interior, e aceitar que tá tudo bem, que minha hora vai chegar, que o ritmo dessa mudança não tá nas minhas mãos. A vida tem sido bem alegre, temos estado com frequência com nossos amigos e nossa família, temos plantado e aproveitado o espaço que temos em Sapucaia pra plantar e testar mini construções paisagísticas, temos viajado pra lugares que espelham a realidade que queremos viver. Não existe mais a contagem regressiva que eu andava fazendo naquele período aflito pela mudança; é apenas a constatação de que minha forma de aproveitar cada dia é aquela de uma pessoa que quer viver no interior, e que sabe que em algum momento vai.
Sexta-feira eu andava em Porto Alegre e mais uma vez me colava o Eddie Vedder na cabeça cantando Society: essa ganância é um mistério pra mim... é muito legal essa letra e reflete muito da minha perplexidade sobre o ponto a que chegamos como civilização.
Já faz mais de ano que, junto com o processo de redescobrir a natureza, eu fui meio que me incompatibilizando com a cidade muito grande - os barulhos, cheiros, as pessoas aos montes se cruzando na rua sem nenhum reconhecimento umas das outras, as interações baseadas em medo e competição, a ostentação dos materialmente ricos, a degradação dos materialmente miseráveis, a falta do verde, as relações de poder históricas - tácitas mas claras para aqueles que já estão com os olhos de ver. Com esses olhos de ver que eu tenho andado nas cidades maiores. Esteio, por mais tranquila que seja do que Porto, é urbana o suficiente pra não me inspirar nada muito diferente. Fico fazendo um esforço de consciência pra não ficar julgando desnecessariamente, simplesmente observar e focar no que há de bom - claro, há o bom sempre, em todo lugar, e muitas iniciativas do bem apenas encontram espaço nos maiores centros urbanos. Observo e aceito, apenas, que prefiro estar na paz do meu verdinho.
Quando falo em ir pro interior, falo tanto de estar vinculada a uma cidade de pequeno porte - e eu, sim, fico muito feliz com a ideia de estar perto de uma cidade, não tenho vontade de me enfurnar no topo da montanha e viver como monge hehe -, quanto de ter um espaço que me permita o contato com a terra. A vontade de cidade pequena veio antes, já há uns 6 anos, quando morava em Brasília e planejei meu retorno pro Rio Grande do Sul. Eu gosto de como as relações humanas e institucionais funcionam nas cidades bem pequenas, parece que não rola tanto aquela vida em castas como na cidade maior - filhos dos ricos na escola particular e filhos dos pobres na escola pública, o SUS precário de um lado e o hospital bem chique do outro. Não tem espaço pra muito luxo, restaurantes muito gourmetizados, shopping centers. Eu me sinto à vontade nessa simplicidade, nessa desigualdade social menos ostensiva. As pessoas têm mais espaço pra viverem as coisas reais da vida, a rua efetivamente é espaço de convívio, as crianças são mais livres, não ficam naquele binômio arrepiante apartamento-shopping que leva os pais a não darem conta da energia natural da infância e recorrerem com uma frequência crescente a remedinhos pra elas...
A autonomia tem muito apelo pra mim também, a cidade pequena é um lugar em que ter um pátio faz parte da vida, a pobreza não é miserável pq alguma coisa de comida sempre se planta em casa. Na grande cidade saturada de gente, os cubículos de concreto me dão a sensação de falta completa de autonomia - se depende de suprimento externo pra comer, beber - todo o básico da vida é suprido apenas na troca por dinheiro, aí ter ou não uma fonte de dinheiro vira a tônica da vida. Aí já entra minha vontade de um espaço maior do que só um terreno de cidade e poder plantar mais. Eu tenho tido cada vez mais vontade de autonomia, de ser capaz de suprir o básico da minha existência a partir do meu espaço, uma ideia que se fortaleceu no nosso contato com a permacultura, com a vontade de comer comida limpa e de não financiar empresas com posturas político-econômicas predatórias.

Então... por todas essas e mais a nossa vontade de pé da terra que firmamos nossa intenção pro universo de ir pro interior, naquele momento de vida em que algumas pessoas pensam que a gente tinha mais era que seguir estudando e galgando degraus profissionais pra ganhar mais e mais. É tão bom seguir a voz do coração em vez de a voz do senso comum :) é tão bom não ter medo de se jogar numa mudança assim - claro, se jogar com confiança mas com responsabilidade - e saber que a gente não precisa acertar sempre, e que se não for bem o que a gente esperava, a gente sempre vai poder mudar de novo e de novo, afinal não tem nenhum problema em errar, e ficar bem paradinho com medo de errar é meio que morrer antes do tempo.
Que seja uma linda jornada!
Bjs com carinho,

Obs.: agora, em abril, lendo esse post, percebo que outros movimentos ocorreram - aquela dissonância forte em relação às grandes cidades diminuiu, a ponto de essa semana eu ter transitado em paz por São Paulo - me fazendo pensar que a paz real tá dentro, sempre... no mais, segue o post da forma em que foi escrito meses atrás :-)

2 comentários:

  1. Que delicia Fê, que gostoso essa retrospectiva antecipada hehe.
    O que mais amo da vida é essa paz de estar na tua e passeando em paz nas diferenças (SP).

    Vejo essa beleza em ti e no Rô!!
    Beijos e meus melhores desejos de plenitude de tudo na nova vida primos!!
    Celo

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    1. Querido!! Simmmmm quando a gente tá em paz, consegue transitar... sem se perturbar nem perturbar o meio em que estamos, qualquer que seja. Obrigada pelo carinho, tá tudo muito feliz!! <3 Beijao com saudade!

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