quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Ode racional ao amor

Bommm dia chuvoso aqui nas paragens do RS :)
Faz tempo que eu penso em falar sobre a importância do amor, de deixar o amor ser a ótica de uma vida.
Não o amor romântico, ou o amor aos familiares e amigos; aquele amor universal e fraterno, do qual a gente ouve falar geralmente em contextos religiosos.
Aí mesmo que reside o problema: tanto se ouviu falar dele nos contextos religiosos, que a pessoa que refuta a religião acaba refutando junto a atenção ao exercício desse amor. Eu entendo o exercício do amor como uma manifestação da nossa dimensão espiritual, como aquilo que remete ao que nos é essencial, ao que se passa dentro de nós e ao como funcionamos, o que nos vincula com o motivo de estarmos aqui, com o que nos faz felizes e justificados na vida. Entre religião e espiritualidade pode haver a distância do universo - é absolutamente possível uma pessoa ter uma ótima relação com sua espiritualidade e não ter religião, assim como o contrário... aquelas pessoas que estão vinculadas a religiões sem que isso seja um instrumento de mudança de percepção, autoconhecimento, conexão interior.
É triste que muito se confunda espiritualidade com religiosidade e que não se perceba que há sim muito espaço para o desenvolvimento da espiritualidade dentro dos grupos religiosos, ainda que o que se veja mais (acredito que não por serem em maior quantidade, mas por fazerem mais esparro e se tornarem mais visíveis) sejam exemplos de intolerância e fundamentalismo, paradoxalmente opostos à ideia do amor.
É que, esse amor aí assunto do post, quem deu mais publicidade para essa ideia aqui nas paragens do Ocidente foi Jesus. E como fundamentalismo religioso começou há séculos infindáveis, quando finalmente a nossa civilização conseguiu sair do jugo da Igreja, no fim da Idade Média, se convencionou que as coisas da matéria seriam assunto da ciência, e as coisas do espírito seriam assunto da religião, e cada uma ficaria no seu quadrado. Essa dualidade foi extremamente válida como ruptura de uma época em que a tal autoridade religiosa determinava a vida das pessoas, atendendo a seus interesses escusos - tenho certeza de que todos já ouviram o suficiente acerca das atrocidades cometidas nesse período, e tb sei que é o motivo pelo qual muitos ainda se mantém completamente distanciados de qualquer possibilidade espiritual e religiosa.
Infelizmente, nessa separação muito necessária à época do Renascimento, Jesus e suas ideias ficaram relegados ao campo da religião. E desde lá tem sido assim - 500 anos em que muitas coisas mudaram, em que novas formas de usar Jesus para fins particulares duvidosos surgiram, e em que muitas pessoas maravilhosas não querem nem ouvir falar de Jesus, de tanto ranço histórico.
Só que Jesus não instituiu religião nenhuma. Ele foi divulgador de uma ideia, a de aplicar o amor como ótica em todas, todas as áreas da vida. E esse amor universal fraterno se traveste de muitas outras virtudes: otimismo, gratidão, compaixão, resiliência, humildade, pacificidade, pureza de coração.
Já que Jesus foi posto de lado com suas ideias, a caracterização da pessoa de bem na sociedade acabou ficando restrita ao "pago minhas contas e impostos, não mato, não roubo, trabalho pesado pra ter minhas coisas, crio bem meus filhos, amo meus pais". Tudo isso é muito importante, não há dúvidas; esse é o básico da parte prática da vida. Mas com que olhar, com que ótica de mundo se vive? Vejo muitas pessoas que seguem essa correção de caráter na vida prática e que:
- reclamam de tudo e de todos o tempo todo,
- só xingam governo de qualquer partido, seja o governo causa ou não do problema sendo discutido, 
- surtam quando a vida apresenta alguma dificuldade maior, botando a culpa do surto na dificuldade,
- acham que tudo sempre vai dar errado, que tudo só tende a piorar, e que o pior sempre acontece com elas,
- acham muito bonito não levar desaforo pra casa e sair por cima quando se sentiram provocadas,
- acham que nunca têm o bastante de saúde, de atenção, de dinheiro, de condições de vida,
- acham que qualquer aparente boa ação deve ter um segundo interesse por trás,
- julgam muitas pessoas como vagabundas, encostadas, incompetentes, egoístas, orgulhosas, etc etc etc.
Vc também deve conhecer, né?

E os homens da ciência acadêmica, tão envaidecidos do seu monopólio da verdade, se esquecem de que ao longo desses séculos desprezaram e riram da cara de muitas pessoas que vieram expor suas ideias verdadeiras, e não aprenderam a lição de humildade de que toda ideia plausível merece respeito, até que seja confirmada ou refutada.
Vcs já viram o discurso do Chaplin naquele filme de 1940, o Grande Ditador?
Tem uma hora em que ele diz assim:
"Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido."
Quem não ouviu ainda, ouça todo, ou leia todo, vale MUITO a pena.
Pois é, Chaplin. Que pena que um dia se convencionou que amor, otimismo, gratidão, compaixão, resiliência, humildade, pacificidade, pureza de coração eram coisas de religião, coisa para gente inocente a ponto de cair na lábia dos que usavam e usam Jesus para seus interesses. As pessoas estudadas aprendem tb nos seus estudos a rir daquelas que cultivam essas ideias: pobres ignorantes, o que seria deles se não fôssemos nós a pensar os rumos do mundo e da nação, a assistir jornal pra citar as estatísticas na fila do banco e na roda do bar? Que pena que daquele dualismo entre ciência e religião tenha resultado uma sociedade tendente a niilista, cética, sarcástica, apocalíptica.
Aí o mundo está inundado em antidepressivos e vai ficando claro que viver na receita de bolo da nossa sociedade não ajuda as pessoas a serem felizes. Aí a física começou a dar indícios de que a realidade é afetada pela intenção do observador, e pensar positivo não parece mais tão absurdo. E as pessoas vão se abrindo pra necessidade de algo mais do que ser um cidadão com práticas corretas. Vai ver tinha alguma filosofia mais profunda por trás da aparente ignorância ou superficialidade daqueles que falam de amor e vivem sorrindo.
Na verdade Jesus falava de amor como forma prática de lidar com adversidades, com as pessoas difíceis, com os bens materiais, com a família, com a dor dos outros, pois amor não pode ficar só no discurso, ou só na ida semanal à igreja ou ao culto. Amor é ótica de vida em todos os momentos práticos da jornada.
Então, a conclusão desse falatório todo é: não refute o amor universal e fraterno sem realmente buscar informações, sem ler a respeito. Quem faz isso de cabeça aberta, sem preconceito, enxerga as vantagens de buscar essa ótica. A vida feliz só se sustenta a longo prazo se o bem que se buscar for o de todos e não só o do próprio umbigo; e a saúde mental e física depende de nutrir bons sentimentos e pensamentos (ciência cada vez mais tendo que se abrir para as evidências disso, apesar de parecer preferir não acolher hipóteses a respeito das causas dessa influência das esferas sutis no corpo físico). Não precisa pensar em Jesus se não quiser, essas ideias não são monopólio dele. Amor é trabalho de autoconhecimento e reflexo nas relações com o mundo externo. É como Deus, que também responde por Universo e suas regras. Chame como quiser, mas abra sua cabeça pra viver mais consciente dos seus pensamentos e palavras, mais consciente de si, das pessoas, do nosso mundo.
Falando por mim agora: eu vivo a minha espiritualidade com pleno, pleno respaldo da minha racionalidade, dos meus estudos pessoais, da minha graduação em Biologia. Mais ainda agora, com a pós-graduação que estou fazendo em Saúde e Espiritualidade, com toda a gama ampla de informações e a nova consciência que vem se abrindo para mim no último ano. Meu voto é o de buscar ver sempre o melhor da vida mesmo nas dificuldades, é de encontrar finalidade para a minha existência, é de tentar fazer parte da solução de forma prática, é de tentar não abrir a boca se não for pra falar algo bom e útil. Não emito medo e violência se não quero entrar nessa vibração e receber isso de volta. Busco me comprometer com a Vida nas suas diversas manifestações - falar e cumprir, ser correta e dedicada no meu trabalho, não mentir, não zombar, manter minhas relações, cuidar das coisas materiais que consegui/ganhei/peguei emprestado, buscar palavras gentis e tantas outras formas - e sei que a vida se compromete comigo em retorno.
Amar e mudar as coisas, mudar com meus atos, com minhas escolhas e com minha cidadania, e com minhas palavras e pensamentos, vibrar esperança e confiança em um universo de abundância, sintonia e beleza. Funciona. Me mantém sorrindo.
Bjs :)


Nenhum comentário:

Postar um comentário